domingo, 20 de junho de 2010

Sobre Saramago

O que sempre dizem, que quando a gente gosta muito de um autor nos sentimos como primos distantes, senti ontem ainda mais forte quando soube, no final da manhã, de sua morte. Em minha imaginação eu ligava para Pilar e lhe dizia algo delicado, que dirimisse um pouco que fosse essa dor universal que um dia todos vamos sentir, ou já sentimos: a dor da perda. Seu marido pensou a humanidade de uma forma poética. O homem é mais digno só pelo fato de seus livros existirem.

Saramago, sem nenhum demérito, era unanimidade. Como Chico Buarque. Quem não gostava? Nunca me esquecerei das leituras de "História do Cerco de Lisboa", das andanças de Raimundo Silva pelas ruelas da velha Lisboa, a ouvir longínquos cantos árabes, a imaginar mouros, muitos séculos atrás, circulando por aquelas ruas e sentindo-se em casa. Nunca me esquecerei da jangada de pedra que se desprende magicamente do continente europeu. Nem da cegueira leitosa que um dia acometeu a todos. Nem da grande caverna à nos espreitar...
Nem da pura poesia que é seu português.