quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Recheio

Dizer palavra
sem cor, forma, recheio
É vão ofício
Nuvem que passa

Palavra gorda, colorida, formosa,
te chama pra roda
alegra os quintais.

Sábio

Pernas bambas
Pernas vivas
vivas de vasta vida

Braços tortos,
tortos de abraços tantos

Mãos com morros e montanhas,
de quem trouxe o mundo nas mãos

Pés cascudos,
descalços de amargura, do azedume do rancor.

Tronco ereto,
ereta certeza de que viver não foi difícil.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

María Zambrano, "La tumba de Antígona".

"A mí me ha cogido muchas veces la lluvia en el campo cuando iba con mi padre y no teníamos dónde guarecernos. Y era buena esa lluvia, era bueno, aunque duro ir al descampado. Gracias al destierro conocimos la tierra".

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Bartleby e a CosacNaify

Essa semana o "realismo fantástico" bateu à minha porta...

Fiz uma singela aquisição de um delgado livrinho de 40 páginas, editado pela suntuosa CosacNaify. O livro era o famoso "Bartleby", do Melville, autor do clássico Moby Dick...
A moça da livraria inocentemente me entregou o livro. Sem mais. Nos seguintes trinta minutos eu me pus diligentemente e feliz a "descosturá-lo", já que ele vinha com duas linhas (uma preta e outra vermelha) alinhavando-o de cima a baixo. Quando abro o livro, já a caminho de casa, não vejo rastro de letra em nenhuma das páginas... Foram dar um passeio ou talvez houvessem sido tragadas por algum sumidouro secreto nas estantes da livraria!

No dia seguinte lá voltei e me deparei com o bom humor do atendente e sua ausência de explicação para o fenômeno: "deve ser arte abstrata"... E emendou em seguida, taxativo: "Não...é erro da gráfica". Deu uma saída para pedir informação e quando retornou desvelou todo o mistério de "Bartleby- o escrivão"... As páginas escritas estavam camufladas, vinham grudadas uma na outra propositalmente, tinha que destacá-las com o marcador de texto de plástico que vinha junto... Nenhum cantinho do livro avisava sobre a artimanha. A "esperta" pegadinha do projeto gráfico da editora extrapolou a zona da criatividade estética, caindo no preciosismo bobo.
Pior para Melville. E seus leitores.