quinta-feira, 14 de junho de 2012

Aquele dia na fazenda



O céu era só estrelas
No chão a fogueira ardia
O canto da coruja ao fundo se sobrepunha à voz suave e solene do “príncipe da caatinga”
Duas cadeiras de plástico e nós
Sozinhos
Fitando o fogo faminto
Que a madeira consumia
O “príncipe” cantava a saudade e a perplexidade da morte
Nós cantávamos a vida
Nosso dia
Nossa sorte
De manhãzinha, só a cama de brasas por testemunha.


Aqui a voz do nosso poeta-menestrel Elomar (tb chamado de "príncipe da caatinga") e sua linda cantoria de ares medievais, renascentistas:

domingo, 8 de abril de 2012

Comunhão

Ele foi mais um a reproduzir os manejos de um ritual antiqüíssimo e milenar: a pesca de tarrafa. Espraiou, reverente, uma dessas redes de pesca sobre as águas quase uterinas do seu querido açude, sob o feixe metálico da lua. Após o esforço do pescador iniciante, a grande malha abriu-se no ar, soberana, para em seguida minguar-se num abraço fecundo com as águas.

Nesse momento ele não quis, por ora, o peixe que o firme e pesado entrançado de fibra abrigou em suas entranhas, o devolveu ao açude. A solenidade da ocasião pedia isso. Quis somente o encantamento de compartilhar mistérios e profundezas com as águas plácidas e escuras, já de tanto tempo amigas, guardiãs silenciosas de décadas de histórias de família e de tudo que de belo há em volta. Pois no instante seguinte em que ele lançou, com precisão e elegância, a rede sobre o manto de água, não se sabia mais o que era homem, o que eram as águas, o que eram estrelas, o que era chão, o que era Lua.

Natureza e homem haviam transbordado.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nascimento

Acordou de um sono sereno
Acordar de Alice é assim

Num piscar de olhos, num golpe de mágica,
despertou mundos e maravilhas
fez toda gente sorrir

Desse acordar, deu-se o inesperado mais que esperado,
tanto amor que não se podia prever
Amanheceu vida nova para os seus

Seja bem-vinda, Alice
O mundo é todo teu.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Todo bailarino












Todo bailarino (a) tem um tanto de soldado e de sonho...
A lida diária, a disciplina espartana, a busca sem trégua pelo movimento a um só tempo exato e fluente, tudo isso harmoniza-se com o que há de etéreo, fugaz e eterno em um passo de dança.

Num jogo de chiaroscuro, yin e yang, o bailarino se faz terra e céu...lavrador de nuvens.




(Foto: balé "Cravos", da coreógrafa alemã Pina Bausch).

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Malabares

Equilibrar vaso, punhado de terra, flor.
Equilibrar papel, lápis, borracha.
Equilibrar amizade, doação, amor.
Equilibrar porta, parede, casa.
Equilibrar meta, determinação, coragem.
Equilibrar mal-humor, tédio, preguiça.
Equilibrar delicadeza, paciência, poesia.


Para equilibrar meta: determinação, paciência.
Para equilibrar casa: punhado de terra, doação.
Para equilibrar preguiça: coragem, amizade.
Para equilibrar mal-humor: delicadeza, flor.
Para equilibrar tédio: papel e lápis.
Para equilibrar poesia:

coragem e cor!

Aniversário

Festejar ter te conhecido eu já o faço todos os dias,


Festejo cada bom dia, cada boa noite,


Festejo o primeiro cinema,


Festejo a primeira viagem,


Até nossas rusgas festejo.





Festejo o primeiro beijo,


Festejo a intimidade,


Festejo meu corpo amanhado pelo teu...


Festejo tua mão na minha,


Festejo teu olhar no meu.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Todo cais é uma saudade de pedra" (Fernando Pessoa)

Existe melhor imagem para a saudade do que essa?

A imagem de um cais perpassa o imaginário de todos nós. Sempre gostei da imagem de uma marina com um píer comprido, cuja extremidade parece tocar a linha do horizonte, o outro lado do oceano... Um cais remete à saudade e ausência, mas também à encontro. Remete a um lançar-se no mareo do incerto e sua imensidão; na vertigem do risco; um saltar para dentro de um venturoso ou desditoso futuro. Um cais pode ser concreto e pode ser inventado: coragem em forma de trampolim para mudanças e aventuras nos recantos de nós mesmos. "Para quem quer se soltar, inventa um cais...e um saveiro pronto pra partir" (Milton Nascimento). Gabriel García Márquez também me transporta à imagem de um cais: nebuloso, intangível, quase mítico...