terça-feira, 5 de maio de 2009

"Dançando pra não dançar"

Desde pequena, não faz tantas primaveras assim, que sonho o sonho dos sonhadores por ofício e profissão. O de viver várias gotas de mar num oceano só. O de viver várias vidas (sem nenhum apelo espírita) numa mesma estreita passagem, numa mesma precária estradinha de piçarra que é a vida nossa, que até onde consigo saber é única. É o mesmo sonho de caixeiro-viajante. Ou de menino que quer ir embora de carona na última boléia do último caminhão do circo que se despede da cidade em que acabou de passar.
Essa minha gana se metamorfoseia em várias formas e tamanhos. Mas uma delas durou um tempinho mais comprido no universo da cachola, atravessou delírios de infância e adolescência. Era uma incerteza quase certa de que um dia seria bailarina de uma grande companhia de dança, daquelas que serpenteiam meio mundo em suas apresentações...juntaria assim a fome com a vontade de comer, dançando sobre os mapas, bailando nas latitudes e longitudes. De preferência uma trupe espanhola, sob a batuta de um Nacho Duato, Cesc Gelabert. Mas isso foi mais tarde, já rendida à dança contemporânea. Na infância, entre um tandue e um jeté, confabulava em tom de segredo com a Tallita. Susurrávamos entre um passo e outro que um dia nosso destino seria a fria e longínqua Rússia, primas-ballerinas do Kirov! Podia ser do Bolshoi também.
No sumo dos dias que já correram, levo sempre sempre a dança comigo, na minha memória e na do meu corpo, que é tudo uma coisa só. Levo-a no regaço, com carinho de filha e carinho de mãe. Levo-a às vezes mais, às vezes menos.
Sou bailarina de minha vida.

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